Matéria na G1 06.03.2021

Matéria na G1 06.03.2021

Publicado em 06/03/2021 | Atualizado em 18/01/2023

https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2021/03/06/artista-de-sorocaba-traz-vida-ao-tropeirismo-brasileiro-em-mapas-feitos-a-mao-faco-o-que-amo.ghtml

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo brasileiro em mapas feitos à mão: 'Faço o que amo'

Com caneta nanquim e giz soft pastel, Francisco Stein refaz as rotas traçadas pelos tropeiros com riqueza de detalhes. Cada trabalho pode levar até 600 horas para ser finalizado.

Por Júlia Martins, G1 Sorocaba e Jundiaí

06/03/2021 08h26 

 

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal


Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

Com a crise causada pela pandemia de Covid-19, o artista Francisco Stein, de 58 anos, decidiu iniciar um projeto para deixar de legado em sua carreira. Com caneta nanquim e giz soft pastel, a ideia foi criar à mão sete mapas ricos em detalhes para contar a história do tropeirismo no Brasil.

Assim, Francisco passou a estudar e fazer pesquisas no ano passado para que pudesse trazer vida às rotas traçadas pelos tropeiros, principalmente por Sorocaba, cidade em que mora e que foi protagonista com a Feira de Muares.

Ao G1, o artista contou desde que saiu do emprego na área comercial, em 2007, se dedica em tempo integral à criação dos mapas feitos à mão. No entanto, com a pandemia, pensou em resgatar uma parte da história brasileira. E esse resgate veio acompanhado de dedicação e muito estudo.

"Já foram 27 livros lidos e mais de cinco meses de pesquisa para dar início ao projeto. O mapa do tropeirismo andino que fiz é o primeiro e único que existe. Procurei colocar muitos detalhes, sou muito chato com isso. Coloquei até as mulas, as caravelas [risos]", conta.

https://youtu.be/LJ-_NA2TP28

Para o projeto dar certo, o artista afirma que até precisou vender o carro para comprar os materiais necessários. Uma vaquinha online para arrecadar fundos e poder levar a produção até o final também foi realizada.

"Sempre fui apaixonado por história e colecionava mapas quando criança. Pretendo sair do básico, das linhas retas que apenas mostram a trajetória de um lugar para outro. Quero mostrar o momento histórico, o nível de altitude, tudo rico em detalhes", explica.

O primeiro mapa foi iniciado em março do ano passado e já está finalizado. Ele mostra a rota do tropeirismo andino, que nasceu na cidade de Salta, onde atualmente é a Argentina. A expectativa é finalizar todos em até dois anos, segundo Francisco.

"Espero fazer um trabalho que reavive o interesse de jovens alunos, adultos e, quem sabe, nossas autoridades públicas", afirma.

A arte dos mapas feitos à mão

Sorocabano de nascença, Francisco já morou em várias cidades do Brasil. Viajava muito por causa do trabalho na área comercial.

No fim dos anos 80, enquanto trabalhava como projetista mecânico em uma empresa de São Paulo, resolveu começar a dar aulas de história - sua grande paixão - em um colégio particular.

"Não consigo imaginar uma aula de história sem mapas. Como no colégio não tinha, comecei desenhando na lousa. Depois, passei a desenhar no papel vegetal e usar durante as aulas. Fiz isso por mais ou menos dois anos", conta.

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

No entanto, Francisco precisou parar com as aulas quando surgiu uma oportunidade de emprego em outro ponto da cidade. Continuar com a paixão de estar na sala de aula se tornou inviável devido à falta de tempo. Mas a arte de desenhar mapas continuou como um hobby.

"Aos poucos, fui aperfeiçoando minhas técnicas. Passei do papel vegetal para o poliéster, com o qual trabalho até hoje. Usei giz de cera, depois passei para o giz pastel e hoje uso o soft pastel, que dá um aspecto bem bonito à pintura", explica.

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

Artista de Sorocaba traz vida ao tropeirismo em mapas feitos à mão — Foto: Arquivo pessoal

Cada mapa é especial, produzido com muito carinho e, principalmente, paciência. Cada trabalho pode demorar até 600 horas para ficar pronto.

"Um dos mapas que mais me marcou foi o mapa mundi. Na época, trabalhava nele apenas em fins de semana e feriados. No total, foram sete anos até ficar pronto", conta.

O resultado final é digitalizado, impresso em papel poliéster e pode ser adquirido pelo site Stein Mapas. No catálogo, também há versões dos mapas de Francisco digitalizadas em canecas, garrafas térmicas, almofadas e outros itens.

Técnica milenar na internet

Francisco Stein e a afilhada Marcela — Foto: Arquivo pessoal

Francisco Stein e a afilhada Marcela — Foto: Arquivo pessoal

Durante toda a sua jornada, Francisco sempre contou com o apoio da família, principalmente da esposa Andrea e da enteada Marcela. Recentemente, Marcela fez um vídeo mostrando o trabalho do padrasto e postou nas redes sociais.

Em poucos dias, o perfil de Francisco no Instagram saltou de 1,2 mil para 36 mil seguidores.

"Foi uma coisa de louco. Eu jamais imaginava isso. Ganhei milhares de seguidores, muitos me mandaram mensagens elogiando meu trabalho. Em meio a tantas dificuldades, isso foi como uma bomba de incentivo. Muito especial", diz.

Depois de toda a repercussão, o artista começou a postar mais sobre seu trabalho na internet, mesmo não sabendo muito bem como lidar com a tecnologia. Recentemente, iniciou uma série de videoaulas, nas quais mostra aspectos da arte de fazer mapas à mão e detalhes sobre sua rotina de trabalho.

A cada dia, mais e mais pessoas chegam e adicionam uma dose de incentivo e reconhecimento para Francisco, que, há mais de 30 anos, dedica sua vida a exaltar a rica história do país onde vive.

"Se tem uma palavra para descrever todos esses anos de trabalho é perseverança. Não acredito que eu tenha um dom e, sim, uma soma de habilidades que aprimorei com o tempo. Faço o que amo. Com 18 anos, achava que era velho demais para aprender guitarra, mas olha eu aqui, com 58 e desenhando mapas, que é o que sempre amei fazer", diz.

 

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